Citânia de Sanfins

Citânia de Sanfins

Situada num planalto, numa posição ci­meira que lhe conferia uma grande segu­rança face às invasões, é hoje um dos prin­cipais testemunhos da cultura castreja do noroeste peninsular, encontrando-se a decorrer o processo de candidatura dos castros a Património Mundial da Unesco.

Numa ampla plataforma, ocupando cerca de 18 hectares, as escavações efec­tuadas deixaram à descoberta uma cente­na e meia de habitações de planta circular e quadrangular, agrupados em cerca de 40 conjuntos de unidades familiares.

O visitante da Citânia tem oportuni­dade de visitar uma reconstrução de uma destas unidades familiares, permitindo vi­sualizar a sua volumetria no contexto ar­queológico, bem como os espaços interiores – páteo ou rua, casa principal com anexo ou vestíbulo bem como uma casa circular de apoio e todo um conjunto de anexos que funcionariam como locais de armazena­mento, bem como para recolha de animais – ovinos, caprinos, bovinos e cavalos.

Entre os séculos II a.C. e o seu to­tal abandono no séc. IV d.C., a Citânia de Sanfins desempenhou um papel de gran­de metrópole e de centro cultural de toda uma região. Hoje, a sua visita permite-nos uma autêntica lição de história, num local com uma visão panorâmica sobre toda a área do concelho, litoral Atlântico, os va­les do Vizela e do Sousa, com as serranias distantes e envolventes da Cabreira, do Marão e do Alvão como pano de fundo.

ACESSO e LOCALIZAÇÃO:
Situa se a 6Km a Norte de Paços de Ferreira com acesso por estradas municipais, designadamente a EN 209, que entronca, na freguesia de Carvalhosa, à esquerda da estrada EN 207, do itinerário Porto   Paços de Ferreira.

ENQUADRAMENTO:
Rural e isolado, uma colina sobranceira a um ribeiro que aflui para o Rio Eiriz.
CRONOLOGIA:
Proto história. Possível construção da primeira fase do povoado, no século 11 a. C.. Há vestígios de ocupação romana fundamentalmente, mas também doutros períodos até à Idade Média. Na periferia (uma encosta adequada ao efeito) encontra se um balneário público, com câmara de aquecimento e formação de vapor quente e tanques de água fria, além de espaço de convívio e lazer. Junto á plataforma superior do povoado, há vestígios duma Necrópole e duma Capela.
A Citânia foi escavada e 1895 por Francisco Martins Sarmento e José Leite de Vasconcelos. Em 1944/1945 realizaram-se mais escavações sob a orientação do Padre Eugênio Jalhay e Afonso do Paço. Em 1951 e 1967, foi estudada pela equipa de arqueologia da faculdade de Letras do Porto, sob a orientação de Armando C. F da Silva. De 1972 a 1974, foi a vez de Carlos Alberto F de Almeida. Entre 1977 e 1983, de novo a equipa da Faculdade de Letras do Porto sob a responsabilidade de Armando C. F da Silva e Rui Sobral Centeno, terminando com um projecto de Musealização da Estação Arqueológica. Em 1995, promoveu se a reconstrução etno arqueológica de um núcleo habitacional e foi feita uma réplica da Estátua do Guerreiro que foi colocada junto à porta da 2° muralha, estravada entre dois enormes penedos que ladeavam urna entrada estreita.

ESPÓLIO:
O enorme espólio que pode ser visto tio Museu Arqueológico de Sanfins (Solar dos Brandões), é constituído por inúmeros fragmentos de cerâmica comum, da Idade do Ferro, de cerâmica romana e de importação, fragmentos de vidro, "tegulae" e "imbrex", mós manuais rotativas, muitas moedas e vários utensílios metálicos, bem como fíbulas, o de adorno e peças de joalharia em ouro e prata. Podem observar se também duas aras, duas anepígrafes e a estátua do guerreiro.

TIPOLOGIA:
"Povoado fortificado, defendido por 3 linhas de muralhas que circundam o povoado, sendo reforçada de O. a S. por uma muralha exterior. Apresentam uma espessura máxima de cerca de 3,5m junto às portas, sendo estas existentes nas linhas defensivas interiores e estando viradas a O., sendo a defesa complementada a N. e S. por um fosso escavado no afloramento. Junto à porta da 2° muralha foi detectado o local onde estaria implantada a estátua de guerreiro, encontrando se, in situ, os pés da estátua esculpidos num penedo. O povoado está estruturado por 1 arruamento principal orientado N/S articulado com outros arruamentos no sentido E/O, em alinhamentos predominantemente ortogonais, que lhe conferem uma planta de tipo regular. As intervenções realizadas permitiram exumar cerca de 160 construções de planta circular, com ou sem vestíbulo e de planta quadrangular, sendo as estruturas habitacionais integradas por 4 ou 5 destas construções convergentes num pátio comum lajeado, enquadradas pelos arruamentos e definidas por um muro, formando uma espécie de quarteirão, tendo em média urna área de 200 a 300 m2. Na plataforma central destacam se dos núcleos de construção doméstica duas construções de planta rectangular, de grandes dimensões, que, face ao espólio exumado, são consideradas de carácter religioso. Na plataforma superior da acrópole implanta se um cemitério medieval com 34 sepulturas orientadas E.   O., formadas por uma caixa de planta trapezoidal, estruturada e coberta com lajes graníticas, estando lhes sobreposto o alicerce de uma capela de planta rectangular, orientada no sentido E.   O., dedicada a S. Romão. No sopé do povoado, dentro da plataforma defendida pela muralha exterior encontra se um edifício de banhos, sendo uma estrutura pétrea soterrada, constituída por um forno de planta subcircular, de parede em alvenaria e com tecto abobadado, precedendo uma câmara rectangular, de pavimento lajeado, com paredes em grandes monólitos e cobertura de lajes graníticas em duas águas, separada da antecâmara por uma grande laje afeiçoada e com uma decoração em corda dupla em torno da abertura semicircular na sua base, sendo aquela igualmente pavimentada e com paredes em grandes monólitos, estando ladeada de bancos de pedra corridos e aberta para o átrio onde se encontram 2 tanques para banhos de água fria, sendo neste local visível a canalização, em caleiros de granito, e o esgoto, em conduta de pedra. Estando ladeado por tinia fonte de mergulho." (Isabel Sereno e Paulo Amaral) (IPPAR)

BIBLIOGRAFIA:

ARGOTE, Jerónimo Contador, in "Memórias para a história eclesiástica do Arcebispado de Braga" (1734);
SARMENTO, Francisco Martins, in "Cidade Velha de Monte Córdova", no "Arqueólogo Português" (1895);
JALHAY, Eugênio e PAÇO, Afonso do, in "Citânia de Sanfins (Paços de Ferreira), 2°, 3° e 4° Campanha, in Brotéria (1944);
ALMEIDA, Carlos A. Ferreira, in "O Monumento com forno de Sanfins e as escavações de 1973", in Actas do 111 Congresso nacional de Arqueologia (1973);
SILVA, Armando C. Ferreira da, in "Paços de Ferreira   As Origens do Povoamento: do megalitismo à romanização", in Estudos Monográficos (Paços de Ferreira, 1986).